segunda-feira, 23 de março de 2015

PONTE HERCILIO LUZ x RICARDO III




                   
   Quais os motivos que possam reunir uma ponte em Florianópolis e um rei que morreu em 1485? Simples: respeito.
   O monarca imortalizado por William Shakespeare na peça Ricardo III, que o descreveu como um vilão deformado, disposto a tudo pelo poder. Ainda segundo o dramaturgo, ele era corcunda e sua fealdade exterior era o fiel retrato de sua alma.
   Uma das maiores pontes pênseis do mundo, a ponte Hercílio Luz teve sua construção iniciada em 14 de novembro de 1922 e foi inaugurada a 13 de maio de 1926. Seu comprimento total é de 819,471 m, com 259 m de viaduto insular, 339,471 m de vão central e 221 m de viaduto continental. A estrutura de aço tem o peso aproximado de 5.000 toneladas, e os alicerces e pilares consumiram 14.250 m³ de concreto. As duas torres medem 75 m a partir do nível do mar, e o vão central tem altura de 43 m.
    Isso sem falar que além da beleza e porte majestoso unindo o continente e a Ilha de Santa Catarina, foi ela a grande responsável para que Florianópolis vencesse a resistência de muitos catarinenses que lutavam para que ela deixasse de ser a capital do Estado.
    As ideias que defendiam que Floripa fosse abandonada como capital do estado certamente eram para atender interesses outros (dizem que os mais interessados na mudança eram os habitantes de Lages), que visavam beneficiar seus negócios particulares e não o interesse coletivo.
    Graças à Ponte Hercílio  Luz isso não ocorreu e hoje seus habitantes, desfrutam do prazer de morar não somente numa belíssima cidade (uma das mais bonitas capitais brasileiras) como também naquela que é conhecida por ter uma elevada qualidade de vida, e a capital brasileira com maior pontuação  do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pelo PNUD das Nações Unidas.
    Já o Rei Ricardo III cuja fealdade externa e interna eram símiles, pelo que dizem não era de aproximar e sim de separar. Ou seja, não ligava, afastava. Completamente diferente da Hercílio Luz.
    Pois bem, hoje às vésperas dos seus 89 anos esse símbolo de  aproximação, essa belíssima idosa com nome de um homem de visão vê passiva um movimento  que a cada dia ganha mais fôlego  para demoli-la.      
    Vítima de governantes que não respeitam o passado e a tradição e por isso não veem nela um símbolo e sim um estorvo. Infelizmente essa ideia  foi contaminando uma parte da população que passou a considera-la a grande responsável pelos problemas de locomoção na ilha e a no mal estar de ir ou vir  ao continente.
    Enquanto isso na Inglaterra aquele rei cruelmente descrito por Shakespeare que governou a Inglaterra entre 1483 e 1485, que mesmo morando numa Ilha certamente jamais construiu uma ponte quase 600 anos após sua morte e dois anos depois de terem encontrado seus restos mortais em um estacionamento e reconhecida sua identidade após exames de DNA, passa a usufruir dos direitos de um sepultamento digno de um rei, não importando o que ele tenha sido como rei.
    Os catarinenses não precisam chegar ao patamar inglês mas podem muito bem exigir das autoridades respeito para com a ponte, para com sua história, suas tradições, seus símbolos e seus recursos financeiros.
Não custa lembrar: não dar valor às referências e perder referência. E todas as vezes que perdemos referência sempre escolhemos o pior.

3 comentários:

  1. Perfeito . O baiano mais catarinense que já conheci

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  2. Estamos vivendo cada vez mais sem referências. Isso é triste!! Saudades de você, Virgílio.

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