Quais os motivos que possam reunir uma
ponte em Florianópolis e um rei que morreu em 1485? Simples: respeito.
O monarca imortalizado por William
Shakespeare na peça Ricardo III, que o descreveu como um vilão deformado,
disposto a tudo pelo poder. Ainda segundo o dramaturgo, ele era corcunda e sua
fealdade exterior era o fiel retrato de sua alma.
Uma das maiores pontes pênseis do
mundo, a ponte Hercílio Luz teve sua construção iniciada em 14 de novembro de
1922 e foi inaugurada a 13 de maio de 1926. Seu comprimento total é de 819,471
m, com 259 m de viaduto insular, 339,471 m de vão central e 221 m de viaduto
continental. A estrutura de aço tem o peso aproximado de 5.000 toneladas, e os
alicerces e pilares consumiram 14.250 m³ de concreto. As duas torres medem 75 m
a partir do nível do mar, e o vão central tem altura de 43 m.
Isso
sem falar que além da beleza e porte majestoso unindo o continente e a Ilha de
Santa Catarina, foi ela a grande responsável para que Florianópolis vencesse a
resistência de muitos catarinenses que lutavam para que ela deixasse de ser a
capital do Estado.
As
ideias que defendiam que Floripa fosse abandonada como capital do estado
certamente eram para atender interesses outros (dizem que os mais interessados
na mudança eram os habitantes de Lages), que visavam beneficiar seus negócios
particulares e não o interesse coletivo.
Graças
à Ponte Hercílio Luz isso não ocorreu e hoje
seus habitantes, desfrutam do prazer de morar não somente numa belíssima cidade
(uma das mais bonitas capitais brasileiras) como também naquela que é conhecida
por ter uma elevada qualidade de vida, e a capital
brasileira com maior pontuação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
calculado pelo PNUD das Nações Unidas.
Já
o Rei Ricardo III cuja fealdade externa e interna eram símiles, pelo que dizem não era de aproximar e sim de separar. Ou
seja, não ligava, afastava. Completamente diferente da Hercílio Luz.
Pois
bem, hoje às vésperas dos seus 89 anos esse símbolo de aproximação, essa belíssima idosa com nome de
um homem de visão vê passiva um movimento que a cada dia ganha mais fôlego para demoli-la.
Vítima de governantes que não
respeitam o passado e a tradição e por isso não veem nela um símbolo e sim um
estorvo. Infelizmente essa ideia foi
contaminando uma parte da população que passou a considera-la a grande
responsável pelos problemas de locomoção na ilha e a no mal estar de ir ou
vir ao continente.
Enquanto
isso na Inglaterra aquele rei cruelmente descrito por Shakespeare que governou
a Inglaterra entre 1483 e 1485, que mesmo morando numa Ilha certamente jamais
construiu uma ponte quase 600 anos após sua morte e dois anos depois de terem
encontrado seus restos mortais em um estacionamento e reconhecida sua
identidade após exames de DNA, passa a usufruir dos direitos de um sepultamento
digno de um rei, não importando o que ele tenha sido como rei.
Os
catarinenses não precisam chegar ao patamar inglês mas podem muito bem exigir
das autoridades respeito para com a ponte, para com sua história, suas
tradições, seus símbolos e seus recursos financeiros.
Não
custa lembrar: não dar valor às referências e perder referência. E todas as
vezes que perdemos referência sempre escolhemos o pior.
Perfeito . O baiano mais catarinense que já conheci
ResponderExcluirVerdade e com muito orgulho.
ExcluirEstamos vivendo cada vez mais sem referências. Isso é triste!! Saudades de você, Virgílio.
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